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  • Diego A. A. de Castro

Eu Uso: Faca de luteria

Atualizado: 18 de ago. de 2021

Diego A. A. De Castro


Qualquer um que comece sua trajetória pelas veredas da luteria aprende rapidamente um fato: lenho cortado é diferente de lenho lixado e lenho mascado. Basta um talhe de qualquer ferramenta para perceber se funciona, se corta. Onde a lâmina lambe a madeira, passa a brilhar. Sem nenhum verniz pode-se enxergar fundo no desenho da madeira, evidente e lustroso. E isto se torna desejável. Isso torna possível dobrar a forma da madeira ao que se deseja, sem esforço. Aí chegamos à faca.

Foi uma das primeiras coisas que aprendi no Conservatório de Tatuí: a fazer facas. Esta ferramenta tão versátil, com inúmeras variantes de uso corriqueiro e que, dentro da luteria, se faz igualmente presente e diversa. Da marcação precisa de um molde (mais delgado do que um traço de lápis), ao talhe das bordas, “ff”s, sguciatura da voluta, filetes, talhe do cavalete (Seria uma lista muito longa...). Mas qual a faca de luteria? Ou ainda, quais as facas de luteria? Todo luthier já fez ou comprou alguns exemplares até conseguir a coleção que se molda ao seu modo de trabalho. Umas não dão certo. É triste, pois dá trabalho para se fazer… Mas existe um rumo comum, consolidado pelo tempo.


Uma faca de luteria tem um aço duro, para manter o corte e poder ter uma extremidade fina e precisa. Quem perguntou aos sapateiros das antigas (que tinham provavelmente uma lâmina recebida dos pais) parou de tentar (e de se frustrar) com aço de feixe de molas e chegou às resistentes lâminas Starret all hard (as inteiramente temperadas). Lâminas HSS (aço rápido), criado para cortar outras ligas de aço. Em verdade, o mesmo material usado nas facas vendidas por marcas suíças e alemãs de qualidade. É díficil de talhar o material já temperado, é verdade… mas de inquestionável durabilidade e qualidade. Um bom aço para ferramentas tem de 61 a 65 HRC (unidade de dureza Rockwell).


Aço mais mole gera facas flexíveis e fáceis de afiar, enquanto que o aço duro contribui para um fio duradouro e firmeza na ponta (embora mais tendente a quebras). Os japoneses já entram com outra abordagem: lâmina bimetálica, aço duro no fio do corte e aço mole no restante, o melhor de dois mundos com um único revés para o luthier: só cortam para um lado. O que nos leva ao formato.


O formato de uma ferramenta diz respeito às respostas que ela pretende trazer a determinados problemas: antigos ferreiros eram valorizados quando vinham de tradição familiar por terem herdado uma variedade de soluções, em forma de ferramentas, de seus pais e avôs.


Profissionais e amantes da luteria utilizam os mais diversos formatos de facas, com alguns vetores comuns: são finas, de bisel longo e duplo (cortam para os dois lados) com uma ponta angulada entre 18º e 30º. E a partir daí, abre-se um grande leque: pontas finas e compridas para precisão de bisturi, pontas chanfradas para firmeza, pontas curvas para tirar o centro de uma superfície… Cada ferramenta uma resposta às perguntas de seu usuário.


Imagine cortar um cavalete sem uma boa faca? Ou melhor: imagine-se cortando um cavalete com uma ótima faca (como a que está sendo afiada na foto).

 

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