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  • Thiago Endrigo

A mão e o olhar, ou como aprendi marcenaria por causa das plainas.

Atualizado: 18 de ago. de 2021

Comecei a trabalhar com madeira construindo guitarras elétricas. Foi o Seiji, um incrível luthier e amigo que me ensinou a usar a serra circular, a tupia, a desempenadeira e até mesmo as lixadeiras e a furadeira de bancada.


Posteriormente, em função de outros interesses, passei a tomar aulas com um entalhador e com um luthier de violinos. Aos poucos também fui me dedicando à construção de móveis e tudo isso me apresentou outros modos de trabalhar a madeira. Pude me aproximar e

compreender melhor como usar as ferramentas manuais.

Com o tempo percebi que era possível ser tão preciso com ferramentas manuais quanto ao fazer os processos com máquinas.

Essa compreensão veio só com o tempo, depois de conversar, estudar e também praticar, já que esse é o tipo de coisa que se aprende fazendo. Mas também, depois de desenvolver certa confiança a trabalhar com ferramentas manuais.


Antes, aquele acerto rápido de fazer com o formão? Sem formão nem habilidade, eu tinha que ir para a serra. Faltou a fresa certa para determinada usinagem? Não havia outra coisa a fazer a não ser ir às compras. Um degrauzinho tranquilo de tirar com a plaina? Aí vinham horas de lixa...


Foi justamente uma plaina a primeira ferramenta que construí. Não digo que esse seja o caminho de todo mundo. Tento apenas compartilhar qual foi o meu percurso, ressaltando nele alguns aspectos que talvez tenham um interesse mais amplo.


A primeira plaina que fiz tinha tamanho médio e era de uso geral, podia servir para dimensionar, retificar ou dar acabamento. Acredito que todos meus alunos já usaram essa plaina, de crianças a adultos.


Em seguida, veio uma garlopa, na época eu precisava aplainar uma grande superfície e achei que a garlopa ajudaria. Também poderia usá-la para fazer juntas em tampos de instrumentos.


Assim fui ampliando a coleção de ferramentas, construindo o que precisava. Percebi que havia aprendido bastante sobre o que faz uma plaina funcionar bem e sobre a própria natureza da madeira.


Se tinha que aplainar madeiras mais difíceis, com grã revessa por exemplo, poderia fazer uma plaina especial para isso, ou então modificar a afiação de outra plaina. Plaina pequena para detalhes? Nenhum problema, bastava só conseguir a lâmina. Sola côncava ou convexa? Moleza.


Acho que se não tivesse me animado a construir plainas meus conhecimentos de marcenaria não seriam os mesmos.

Posso dizer, com certeza, que todos têm condições de encarar um projeto assim, adquirindo autossuficiência, confiança e às vezes até algum saber sobre si mesmos.

 

O Thiago Endrigo tem, há muito tempo, oferecido oficinas e aulas sobre trabalho em madeira. O ponto alto são plainas, as quais, agora, são tema de um curso para sua construção. Disponível em breve no site (aproveita e confere o blog também):


https://sabercomasmaos.com/blog/

 

Thiago Endrigo Silva coordena o Saber com as Mãos, iniciativa voltada à pesquisa, divulgação e transmissão dos ofícios tradicionais. Faz e restaura coisas de madeira em seu ateliê em São Paulo, onde também dá aulas. Contato: sabercomasmaos@gmail.com

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